Steam Review - Disc Creatures

Uma carta de amor de um fã para duas franquias

O carinho de um fã costumeiramente resulta em uma forma de agradecimento. Seja acompanhando o trabalho  de quem admira, criando fanarts  e obviamente, dando o suporte financeiro. Nesse caso, um deles foi além em seu apreço por RPGs de coletar criaturinhas, e não, não se trata somente de Pikachu e seus comparsas.

Aproveitando o anúncio do remake de Fly, anime baseado na maior franquia de RPG do Japão que é Dragon Quest. Desde 1986, esses jogos dominaram o Japão, resultando até em datas comemorativas. Menos surpreendente ainda foi a franquia se aventurar no gênero dos RPGs de coletar criaturinhas, conhecidos como Monster Taming .

O gênero engloba todos aqueles jogos em que o seu grupo de batalha sejam formados por monstrinhos, que podem ser obtidos no decorrer do jogo. Se em Pokémon temos que capturá-los em pokébolas e usamos o conceito de evolução, em Dragon Quest Monsters os monstros podem desejar se aliar a voce (aceitando suborno como carne) e a forma de ficarem mais poderosos é com um cruzamento, que resulta em outra criatura um pouco mais poderosa, assim, quando mais reprodução mais poderosa se torna a criatura.

Satto, criador solo de Disc Creatures, abraçou estes (e potencialmente outros jogos do genero, da época do gameboy) e os juntou um uma obra só. Nada deixa isso mais  claro que o visual do jogo que abraça o visual de Gameboy Color o que garante um charme próprio. Essa escolha ao mesmo que pareça um pouco primitiva, agrega um ar nostálgico, uma vez que parte do seu público-alvo se agrada com isso. A trilha sonora acompanha esse sentimento de nostalgia, apesar que nenhuma delas me empolga, algumas são bem bonitinhas.

Tudo isso pra evitar briga.

O conceito de Disc Creatures é, pasmem, que agora irão se surpreender, criaturas em discos. Os bichinhos não são capturados para dentro da sua maquininha, ao contrário, você coleta a informação deles e os copia nos CDs. Tanto que  os poucos monstros que você consegue conversar são os selvagens, e os que vieram da copia não falam....isso soa meio errado. A história do jogo se separa em capítulos, cada qual com uma missão central, cheio de bom humor, mas também critica social contra o mal uso do poder das criaturas, inclusive com abusos para venda destas.

Exemplos do que você encontra na jornada

Toda criatura necessita de um disco pra ser invocada, algumas mais fáceis que as outras. Para tal, há um item chamado HiSpeed Memory, que aumenta a chance de uma criatura deixar pra trás seu disco.Quanto maior a raridade da criatura, mais Hispeed Memory você terá que usar, até um total de cinco.

O jogo conta com 200 criaturas no total, divididas entre os 11 tipos, com parte delas tendo até 2 elementos, e cada elemento trazendo vantagens e desvantagens em relação aos outros. Uma criatura de fogo pode atacar uma de planta e causar um dano extra,mas contra uma criatura que seja grama e voador, o ataque causa o dano normal que causaria. Assim é importante montar um time razoavelmente bem pensado, cobrindo fraquezas. Apesar de que alguns tipos são liberados um pouco mais com o avançar do jogo, no início já temos uma boa variedade. Primeiro porque o jogo fornece três iniciais cada qual cobrindo a fraqueza de outro, e em seguida na primeira área já são apresentados mais três tipos, caso o jogador não esteja feliz com seus iniciais ou acho os outros mais interessantes, mesmo que seja só no visual.

Atributos de um Lupice, uma criatura com alta velocidade e ataques mentais.

Se os tipos e os visuais não forem suficientes pra te ajudar a montar seu time, fique sabendo então que cada criatura tem vários atributos, como mostrado na imagem acima. PWR e GRD são relacionados a ataques e defesa física, enquanto MIN e BAR são relacionados á ataque e defesa mentais. SPD é a velocidade, ou seja, define quem movimenta primeiro no turno e o LUC significa sorte, que é o que você precisa pra descobrir o que esse atributo faz, já que o jogo não explica, provavelmente ligado à ataques críticos, mas creio que tem algo mais.

As batalhas são um 3 contra 3, apesar que os encontros aleatórios variam entre 1 e 3. Ah eu falei encontros aleatórios? Errei. Não tem encontros aleatórios aqui, todos os inimigos podem ser vistos no mapa como uma bolinha de gás do mal, onde variam sim as criaturas, mas dá pra desviar completamente deles e até apagá-los com certos items. Uma benção moderna que deveria ser lei em qualquer RPG. Não é incomum você visitar áreas anteriores, então poder evitar lutas facilmente é uma ótima forma de reduzir a chatice.

Falando em áreas, o jogo não tem tantas quanto eu imaginei, apesar de algumas serem relativamente grandes. Geralmente são temáticas, como um floresta assombrada, ou ruínas que ao serem exploradas, levam a um poço de lava onde habitam criaturas de fogo. De certa forma, isso deixa  as escolhas do jogador um pouco limitadas já que várias criaturas são exclusivas dessas áreas pelo seu tipo. Contudo, uma mecânica existe para fornecer criaturas que você pode não ter visto ainda. Existe um personagem chamado Mr. DiscR, que tem uma maquininha que custa 20 PICO (dinheiro do jogo) cada tentativa, e te dará uma criatura aleatória, pode ser um Tomatee, que você encontra logo no começo, ou alguma criatura só encontrada em áreas mais distantes. Sempre é bom dar checada no que você ganha com ele, e não precisa se preocupar com o dinheiro já que geralmente não é problema nesse jogo,uma vez que você pode vender os discos sobressalentes em qualquer loja.

Adoro essas transições

As lojas são uma questão complicada pra mim. O tipo principal, que cura seu time e vende items está disponível em todas as cidades, apesar de que tem items exclusivos para cada. Na primeira cidade, existe um prédio em que você pode fundir algumas criaturas e criar outras exclusivas, bastando ter a receita e os materiais em mãos. Só que meio que incomoda ter que ficar voltando toda vez pra lá, gastando meu item de teleporte que é até barato, mas perdendo meu tempo. O outro prédio em questão é o restaurante onde Você pode colocar suas criaturas no nível 15 , de um total de 50, para agilizar o processo. Como se encontra numa outra cidade, mesmo teleportando, cada vez gasta um tempinho que seria melhor aproveitado fazendo outra coisa.

O sistema de level up funciona bem até certo ponto, mas também me traz alguns incômodos. O que funciona é a evolução natural do jogo, onde na maior parte do tempo você não vai estar em nível mais alto que os chefes, garantindo um desafio razoável. Se por acaso você quiser colocar um membro novo no grupo, ele ganhará experiência extra, quanto menor o nível comparado com o inimigo, mais experiencia é ganha. Aconteceu comigo duas vezes e funciona perfeitamente...até aí. O problema é quando queremos chegar no nível 50,e não há um local que dê experiência para agilizar o processo. Logo subir dos níveis  40 até chegar  no máximo se torna um grind chato e necessário para enfrentar os desafios finais do jogo, principalmente para coletar todas as 200 criaturas.

A dona da casa dorme numa cama de trisal

Se eu for comparar o jogo apenas pela história, ele é até bem contido. Imagino que alguém focado em terminar deva conseguir isso em umas 20 horas. Como eu gosto de coletar as criaturinhas, demorei mais revisitando áreas e fazendo algumas sidequests, ou as vezes só coletando uns discos de criaturas mais raras ou materiais de fusão. Eu gostei de ficar revisitando os locais pra falar a verdade e ainda estou fazendo isso nesse exato momento, mesmo com quase tudo pronto só por diversão.

Tirando a parte do grind até os 50, esse jogo é muito bom. Ele consegue trazer aquela nostalgia de Gameboy (que eu nem tenho, veja só a loucura) e trazer de uma forma atualizada. Gostaria de algumas mudanças pra agilizar os menus, poder ver dados das criaturas sem ter que abrir menu extra pra isso, facilitar a troca. Como tempo eu venho achando essas mudanças de qualidade de vida algo essencial pro jogo ser perfeito. Imagina perder tempo em menu ou dando viagem sem futuro pra resolver uma coisinha de nada?

A baleia Porka , o nome é esse mesmo.

Eu estava querendo esse jogo há algum tempo, desde que eu fiquei com esse desejo de jogar RPGs de criaturinhas, mas sem ser pokémon. Disc Creatures conseguiu tomar minha atenção de uma forma muito boa, mesmo com certos incômodos, que eu espero que sejam consertados no próximo jogo. Cada centavo aqui foi bem gasto, uma ótima escolha de jogo. Disc Creatures pode ser comprado na Steam por R$ 28,99